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26/jun/2014

Da Janela do Quarto andar

Autor(a): Jason Frutuoso

Quando a tarde chegou, a chuva caia livremente sem que nada, nem aquele sol que costumava insistir em ofuscar sua importância, nem o vento que a transformaria em chuva brava, nada contribuía para que ela se inclinasse e deixasse aquela verticalidade crônica capaz de causar uma espécie de tédio.

Os vigiadores de carros alojavam-se em grandes guarda-chuvas, alguns já danificados pelos ventos de outros tempos; de vez em quando corriam para cobrar dos motoristas, o trabalho que acreditavam estar realizando no estacionamento público.

Vários transeuntes corriam em contraste com a passividade da chuva, outros a imitava, andando devagar, desafiando-a, como ela nos desafiava. Por causa da chuva o mês de fevereiro havia se transformado em verdadeira monotonia.

Uma velha parecia pensar em atravessar a rua, mas outros pensamentos conflitavam com a ideia, certamente pensava que algum carro indiscreto pudesse molhá-la, ou quem sabe, feri-la. Foi então, que um gentil cavalheiro aproximou-se dela e disse: "posso lhe ajudar minha senhora, venha!"

Mas sua ajuda não foi o bastante, porque um motorista, destes que não gostam dessas chuvas prolongadas ou, quem sabe, estivesse vivendo um grande conflito, veio a toda velocidade, deixando a dupla totalmente ensopada. Foi incrível! Os dois riram, riram, como se envolvidos numa grande aventura.

Enquanto o mundo se movia caoticamente debaixo da fina e mansa chuva, um boêmio chegava ao bar da avenida para iniciar sua tarefa do dia. Ele começaria por uma cervejinha, passaria por uma talagada de aguardente e terminaria cantando debaixo da janela de seu amor platônico – mas não terminou.

Passava de meia noite, quando José Antônio caiu no canto da rua do baixo meretrício, ignorando, naquele momento, até a chuva que chovia só para ele. Em tom de alucinação, escutava ao longe os barulhos das transações comerciais do Rendez-vous próximo dali.

Ao se abastecer com a bebida, ficou incapaz de buscar sua pretendida.

Agora a meia noite e meia, nem Jupira nem bordel. José Antônio ficou ali, estendido ao chão barrento ao lado de um meio fio sapateado pelos outros frequentadores da Zona Boêmia.

Nada ali o fazia acordar de seu sono boêmio, o que só ocorrera com os gritos de sua mulher que costumava busca-lo na madrugada, como se ela também tivesse lá sua dependência do álcool.

O álcool era uma forma que a Sra. Marisa encontrava para se ligar ao marido; sem o álcool o amor dos dois quase inexistia. O álcool era o vício do esposo e, o esposo embriagado, uma obrigação da qual sua mulher sentia falta. 

 

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